Depois de nove anos, Brasil passa Comando da única Força de Paz Marítima da ONU

por | dez 14, 2020 | 14h

Quando a nossa fragata Independência, que escapou por pouco, em agosto,
da explosão do depósito de nitrato de amônia na capital libanesa, deixar
Beirute, encerra-se a participação do Brasil no Comando, desde 2011, da única
força de paz marítima da ONU (Unifil).
A Unifil é responsável pelo patrulhamento das águas territoriais libanesas para
impedir a entrada de armas e materiais ilegais naquele país.
Com esta saída, pela primeira vez em duas décadas, o Brasil não terá
participação em missões de paz da ONU, permanecendo apenas com
observadores em algumas regiões conflagradas no mundo.
É claro que o custo para o país manter uma força militar nessas missões,
quase sempre pouco ou não reembolsadas pela ONU, aliado ao fato de a área
de atuação estar fora de nosso entorno de interesse estratégico, justificam tal
encerramento.

Entretanto, há que se lamentar o que perde o Brasil com o encerramento de
nossas participações em missões de paz.
Essas perdas passam pela queda da imagem, até aqui, do Brasil como
relevante participante internacional e como um pretendente a assento
permanente no Conselho de Segurança da ONU; pela redução de sua
capacidade de se projetar internacionalmente; e pela tradição de usar a paz
como um valor de nossa Diplomacia e de nossa Defesa.
Segundo citação do Embaixador Rubens Ricúpero, em artigo de Marcelo
Godoy, no jornal Estado de São Paulo, “a presença do Brasil nessas forças era
uma modalidade muito original de soft power por meio de um poder hard sem
os inconvenientes do hard power, da imposição da força, pois ela tem um
contexto jurídico, sempre aprovado pelo Conselho de Segurança e dentro da
carta das Nações Unidas”.
Por fim, a ausência de tropa brasileira nas forças de paz trará também
consequências para nossas Forças Armadas, pois foram experiências valiosas
vividas em situações de risco real de conflito.
Algumas delas nos trouxeram modernizações nas doutrinas operacionais e
logísticas dos empregos de nossos meios militares, mas todas as participações
mostraram um Brasil com um poder militar bastante ajustável às missões de
paz da ONU.