O ano começou quente com o embate entre Estados Unidos e Irã. Mas, daí a imaginar uma terceira guerra, foi demais. O que vimos foi algo quase teatral. Os Estados Unidos eliminaram um general influente sem consultar seus aliados europeus. Washington, mais uma vez, pagou para ver. O Irã, por sua vez, bombardeou uma base norte-americana no Iraque. Estamos quites?
O Irã que há algum tempo patina por conta dos problemas econômicos, muitos deles ampliados pelas sanções impostas internacionalmente, viu as revoltas populares se transformarem em unidade e apoio ao regime. Mais uma vez, os Estados Unidos conseguiram algo inimaginável.
No entanto, um erro monstruoso colocou tudo a perder em poucas horas. Ao desmentirem-se a si mesmos, as autoridades iranianas reconheceram que a queda do PS752 da companhia Ukraine Airlines International (UAI), que faria o voo Teerã – Kiev, fora derrubado por um míssil. O erro humano está sendo investigado, mas a mentira foi suficiente para devolver milhares de pessoas às ruas pedindo a renúncia dos líderes iranianos.
Se os Estados Unidos forem inteligentes, não se meterão na questão. O Brasil menos ainda. Já perdemos a condição de neutralidade e o reconhecimento dos diferentes atores regionais por conta do nosso alinhamento automático a Israel e aos Estados Unidos. É preciso, agora, refletir melhor acerca do envolvimento do país nas questões internacionais. Há uma agenda imensa de conflitos que não nos dizem respeito.
Detalhe: de acordo com o Observatório da Indústria, da Federação das Indústrias de Santa Catrarina (FIESC), os portos catarinenses responderam por 98% das importações brasileiras do Irã em 2019 e, basicamente, o país importou fertilizantes dos iranianos.
Marcelo Rech – 13/01/2020