A pregunta, a título de reflexão, é feita pelo uruguaio Nicolás Albertoni, pesquisador do Laboratório de Economia Política Internacional e Segurança, da Universidade do Sul, da Califórnia, e pelo Andrés Malamud, também pesquisador, mas no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. E o questionamento guarda relação direta com as ameaças dos principais líderes da UE, de não assinarem o Tratado de Livre Comércio firmado em 2019, entre o bloco e o MERCOSUL, por supostas preocupações (?) ambientais, especialmente no Brasil.
No entanto, quem cunhou a expressão que titula essa nota, foi o ex-primeiro ministro belga, Mark Eyskens, que definiu a União Europeia como “um gigante econômico e um anão político”. Em julho de 2014, o Brasil foi taxado de ser um “anão político”, pelo então porta-voz do ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor. Isso porque o Brasil havia classificado de ‘inaceitável’ a violência em Gaza e convocou seu Embaixador em Tel Aviv, para consultas.
Agora, é a UE quem precisa lidar com esse dilema. Albertoni e Malamud, recordam que, no ano passado, os europeus pretendiam avançar em dois acordos, um com o México, do ano 2000 e totalmente desatualizado, e com o MERCOSUL, que se arrastava havia 20 anos. Usando uma metáfora futebolística, os dois afirmam que a União Europeia saiu de duas vitórias, para dois empates, pois os acordos parecem emperrados.
Em 29 de agosto, em uma análise sobre a postura da Alemanha frente ao MERCOSUL, adverti para o que os dois analistas agora concluem: o problema está na debilidade interna do bloco europeu. O que a diplomacia parece ter feito com categoria e habilidade, a política está destruindo com burocracia e demora. E, claro, protecionismo, muito protecionismo.
Incapaz de lidar com seus próprios problemas, a União Europeia mira naquele que poderia ser um acordo histórico, capaz de integrar uma população estimada em 800 milhões de habitantes, quase uma quarta parte do PIB mundial, e mais de US$ 100 bilhões de comércio bilateral em bens e serviços. Pior, observam os dois especialistas: sem o acordo, a União Europeia perderá a condição de cobrar do Brasil, correções em sua política ambiental.
Marcelo Rech – 16/09/2020