No dia 30 de novembro, os presidentes Jair Bolsonaro e Alberto Fernández,
finalmente conversaram. E foi necessária toda uma estratégia envolta e
secretismo, para que ambos deixassem de lado coisas menores, de ordem
pessoal e ideológica, para que as relações bilaterais começassem a ser
tratadas de forma institucional e pragmática. Menos de 24h depois, Bolsonaro
estava em Foz do Iguaçu com o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez.
No próximo dia 16, o presidente brasileiro deve rever Fernández e Abdo
Benítez, na Cúpula do MERCOSUL em que o Uruguai irá transferir a
presidência do bloco à Argentina. É possível que estejam presentes, ainda, os
presidentes do Chile, da Bolívia, da Colômbia, e do Perú.
Esta será uma excelente oportunidade para que o processo de integração
regional ganhe novo impulso. O entorno geográfico do Brasil é marcado por
uma enorme variedade de problemas e desafios. A pandemia é apenas mais
um.
O evento de 30 de novembro que reuniu Bolsonaro e Fernández, teve como
pano de fundo, a celebração dos 35 anos da Ata de Foz do Iguaçu, quando os
então presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín, formalizaram a reaproximação
entre Brasil e Argentina em novos termos e lideraram um processo que
permitiu a construção do MERCOSUL.
Em 2021, o bloco completará 30 anos e será presidido por Argentina e Brasil.
Após anos mergulhado em uma crise que culminou com a suspensão do
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Paraguai em 2012, para permitir o ingresso da Venezuela, e da Venezuela, em
2016, o MERCOSUL dá sinais de recuperação, agora focado em sua vocação
econômico-comercial.
A Bolívia, sob nova direção, quer que o Brasil ratifique o Protocolo de Adesão
que a tornará membro pleno do MERCOSUL. O Brasil quer que o país
endureça as políticas contra o crime organizado e o narcotráfico. A fronteira
comum, de 3.400 km, exige cooperação plena. Até o momento, o presidente
Luis Arce não sinalizou que tipo de relações pretende construir, com o Brasil e
a região.
A Colômbia vive uma crise interna gravíssima com um possível
recrudescimento dos acordos de paz firmados com as FARC e o ressurgimento
dos grandes cartéis de drogas. Além disso, o país é fortemente impactado pela
migração venezuelana. Ainda que lateralmente, trata-se de uma crise que leva
à outra, com a presença de guerrilhas colombianas em território venezuelano,
protegidos pelo regime chavista.
Outro importante produtor de drogas, o Peru vive uma crise política que se
estenderá, pelo menos, até as eleições de 11 de abril de 2021. Em seu terceiro
presidente no ano, o país também sofre com mais de um milhão de migrantes
fugidos da Venezuela, o crescimento da criminalidade e violência e células
terroristas do Sendero Luminoso.
No Paraguai, há problemas de governabilidade, corrupção e sequestros em
cruso, pelas guerrilhas marxistas Exército do Povo Paraguaio (EPP) e Exército
Mariscal López (EML). Isso sem contar a presença, cada vez mais
contundente, de organizações criminosas do Brasil naquele país (PCC e
Comando Vermelho).
O Chile, por sua vez, vive sob um clima pesado de protestos e indignação que
têm a ver com as desiguldades internas, mas também é fruto de ações
externas de desestabilização. A redação da nova Constituição dirá se o país
volta aos trilhos ou sai de vez.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), “a América
do Sul atravessa um período preocupante no que diz respeito à criminalidade
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transnacional. A expansão da produção e do tráfico de drogas, bem como de
diversos delitos conexos, traz consigo o crescimento da violência e de diversos
problemas de saúde pública, afetando milhares de vidas e drenando recursos
públicos já escassos”.
Portanto, é passada a hora priorizar o que nos aproxima em lugar daquilo que
nos separa. Resta saber se a conversa entre Bolsonaro e Fernández, terá a
capacidade de produzir a mudança necessária e a influência regional desejada.