No dia 1º de julho, o diretor da CIA, William Joseph Burns, reuniu-se, em Brasília, com o presidente da República e alguns dos seus principais ministros, além, claro, do seu contraparte, o diretor geral da ABIN, Alexandre Ramagem. De forma muito genérica, atribuiu-se a ele, a preocupação dos EUA com a implantação da tecnologia 5G pelo Brasil. De fato, Bill Burns tratou do assunto, mas o que o trouxe ao Brasil foi o mesmo tema que o levou, horas depois, à Colômbia.
É fato que a China e sua expansão política e econômica na América Latina, preocupam, mas os EUA estão inquietos mesmo é com uma crise social generalizada na região, algo que culminaria com uma nova guinada à esquerda na maioria dos países da América do Sul.
A eleição, confirmada, do esquerdista Pedro Castillo, no Peru, permitirá que o Eixo Bolivariano se reorganize. No Chile, a esquerda é favorita para as eleições de novembro. Em 2021, ainda teremos eleições em Honduras e Nicarágua. E, em 2022, será a vez de Brasil e Colômbia. O Foro de São Paulo tem trabalhado intensamente para impactar todos esses processos.
Para o chefe da CIA, o que aconteceu no sábado, 3, e que ele antecipou dias antes, deve se aprofundar no Brasil e em outros países. E ele não se refere apenas a manifestações e protestos contra os governos, mas a repetição de atos violentos que buscam desestabilizar os países hoje sob comando da direita.
No ano passado, o Chile, país-modelo para os vizinhos, foi atropelado por uma onda de violência que obrigou suas autoridades a convocarem uma Assembleia Constituinte para redigir a primeira Constituição pós-Pinochet. Instalada, a Assembleia Constituinte será presidida por uma índia mapuche. Na visão dos EUA, o que ocorreu no Chile se repete na Colômbia e será replicado no Brasil.
Burns veio entregar um aviso sério ao governo Bolsonaro. Os atos desestabilizadores irão crescer no Brasil. Por trás desse processo, trolls russos e chineses. Para Rússia e China, quanto mais problemas na América Latina, menos condições os EUA terão de interferir no resto do mundo.
Em 2021, podemos dizer que o placar se mantém equilibrado. Tivemos eleições no Equador onde saiu vitorioso um candidato de direita, e no Peru, onde a esquerda confirmou a sua vitória com um fã incondicional de Hugo Chávez. A CIA não dúvida que Castillo recebeu forte apoio econômico de países antagonistas dos EUA e que teriam chegado ao Peru, via Venezuela.
Perder o Brasil e a Colômbia para uma esquerda radical e violenta é tudo que Washington não quer e fará para evitar. Com um histórico de ingerência na política regional, hoje os EUA se veem ameaçados por potências extrarregionais que buscam conter a sua hegemonia. Rússia e China buscam frear os ímpetos norte-americanos no resto do mundo semeando a discórdia e os conflitos no quintal da CIA.
Isso sem falar no apoio que já entregam à Argentina, Bolívia, Cuba, Venezuela e Nicarágua. Um dos cenários mais temerários para os EUA diz respeito à possível perda da Colômbia, aliado preferencial e destino de alguns bilhões de dólares em armas. Uma Colômbia parceira da Venezuela bolivariana é impensável para os EUA. Seria a conjugação perfeita do crime organizado, guerrilhas, corrupção e tudo o mais que se possa imaginar. O México de hoje, seria fichinha perto do que poderiam ser, na visão da CIA, Colômbia e Venezuela sob o mesmo mando.