As armas químicas e biológicas que desafiam o Ocidente

por | mar 29, 2022 | 18h

A Rússia assegura que os EUA mantêm laboratórios para o desenvolvimento de armas químicas e biológicas na Ucrânia e estaria preparada para provar. Enquanto os aliados de Washington desdenham, Brasil e China cobram investigações sérias e independentes.

No dia 1º de março, cerca de 100 diplomatas de 40 países abandonaram o plenário da ONU em Genebra, quando o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, falando ao painel de Direitos Humanos, acusou os EUA de manterem laboratórios para o desenvolvimento de armas químicas e biológicas, na Ucrânia. A diplomacia russa repetiu as denúncias nos dias 11 e 18, desta vez, no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A comunidade internacional tem sido indiferente já que Moscou é o agressor e Kiev, o agredido. No entanto, os elementos reunidos pelo Ministério da Defesa da Rússia, não deveriam ser simplesmente ignorados. De acordo com os militares russos, 26 laboratórios teriam sido encontrados próximos à capital ucraniana, e nas regiões de Lviv, Kharkiv, Kherson, Odessa, Veneza, Ternopil, Mykolaiv, Poltava e Uzhorod.

Importante destacar que a Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, teria reconhecido, em depoimento ao Senado norte-americano, a existência de laboratórios de biodefesa na Ucrânia. No entanto, para o Departamento de Estado, isso não significa que a Ucrânia estaria desenvolvendo armas químicas e biológicas. Também a China, através do porta-voz da chancelaria, Zhao Lijian, denunciou que os EUA manteriam 336 laboratórios em 30 países, com o mesmo objetivo.

Por meio do seu representante da ONU, o Embaixador Ronaldo Costa Filho, o Brasil defendeu uma investigação séria e imparcial de tais denúncias. “Eu não tenho conhecimento e informação de antemão para atestar ou negar e veracidade da informação. O que nós entendemos é que há uma convenção de armas biológicas em vigor, que contém procedimentos de verificação de denúncias para investigação e qualquer denúncia deve ser investigada de forma séria, transparente e imparcial, para assegurar que os compromissos de todas as partes da convenção estão sendo respeitados”, explicou.

O Brasil é um dos países que tem votado, tanto no Conselho de Segurança como na Assembleia-Geral, pela condenação da Rússia por ter invadido a Ucrânia. A postura brasileira tem sido, inclusive, bastante elogiada pelos EUA e os demais integrantes do Conselho de Segurança da ONU onde ocupa um assento não-permanente. O Brasil não assumiria essa posição se não considerasse a sua relevância até mesmo para que haja um “mapa do caminho” que encaminhe um acordo de paz entre Rússia, Ucrânia e o Ocidente.

Ainda de acordo com Costa Filho, “a ONU diz que não tem conhecimento (de armas biológicas na Ucrânia), o que é diferente de dizer que não existem. Por isso o Brasil reitera a sua posição: se há uma denúncia, deve ser investigada imparcialmente”, reforçou.

Junto com a China, o Brasil entende que organismos independentes deveriam investigar as denúncias para afastar completamente a ameaça de uso desse tipo de armas. A diplomacia brasileira, por outro lado, entende que a troca de acusações entre Rússia e Ucrânia, sobre planos de uso de armas químicas e biológicas, só contribui para gerar mais tensões e obstaculizar a assinatura de um acordo de paz.

Ainda em relação às armas químicas, o Diretor-Geral da Organização para a Proscrição de Armas Químicas (OPAQ), Fernando Arias, enviou para a cidade de Lviv, dois peritos para coletarem informações e monitorar a situação in loco. A medida se mostra acertada, pois cabe à OPAQ e não aos países envolvidos, a responsabilidade de responder às preocupações da sociedade mundial.

Imagem: BBC