De principal aliada dos EUA na América do Sul, a Colômbia pode ser presidida por um ex-guerrilheiro de esquerda, como resultado do desgaste dos partidos tradicionais e da frustração dos colombianos com a situação do país, carcomido pelo narcotráfico, empobrecido e com uma taxa de desemprego de 15%.
No dia 29 de maio, quase 39 milhões de colombianos retornarão às urnas, desta vez para eleger o presidente da República. No dia 13 de março, esse contingente participou das eleições legislativas e primárias, dando ao candidato do Pacto Histórico, o ex-guerrilheiro e ex-prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, mais de 80% dos votos. No entanto, Petro está longe de se garantir em primeiro turno.
Diferentes analistas políticos colombianos acreditam que estas eleições, assim como as de 2018, serão decididas em um segundo turno polarizadíssimo. O segundo turno será realizado 30 dias após a proclamação oficial dos resultados. A expectativa, agora, é pela construção de alianças que permitam aos dois principais candidatos, Gustavo Petro e Federico Gutiérrez, confirmarem essa tendência nas urnas.
Se por um lado, é difícil prever quem ganhará o pleito, por outro, é fácil afirmar que o Centro Político, vinculado ao ex-presidente Álvaro Uribe, é o principal derrotado. A Colômbia poderá passar, assim, de um país tradicionalmente de centro-direita, para um país governado pela esquerda. Uma esquerda em sintonia com as demais forças autodenominadas progressistas na região.
E o impacto de uma possível eleição de Petro, não se restringirá apenas à Colômbia. O Brasil terá eleições presidenciais em outubro e o giro à esquerda que pode dar-se no país vizinho, ganhará força por aqui. Argentina, Bolívia, Chile, Peru e Venezuela, já contam com governos de esquerda.
As pesquisas mais recentes mostram Petro à frente com 32% das intenções de votos, seguido por Gutiérrez com 23%. Em terceiro, tecnicamente empatado com o quarto colocado, está o candidato de centro, Sérgio Fajardo, com 10%. Quase 15% dos eleitores se dizem indecisos.
Em 2018, Petro perdeu justamente no segundo turno para o atual presidente Iván Duque. Nos últimos quatro anos, a Colômbia não apenas empobreceu, como viu aumentarem a violência e a insegurança após os cinco anos dos acordos de paz assinados entre o governo e as FARC. Além disso, a taxa de desemprego está próxima dos 15%.
À exemplo da eleição de Gabriel Boric, no Chile, os colombianos se mostram favoráveis, em sua maioria, à um experimento com a esquerda. Gustavo Petro, que tem 61 anos de idade, depôs as armas em 1990 e construiu uma carreira política consolidada. A seu favor, conta muito a divisão interna dos partidos de direita e centro, além dos parcos resultados obtidos pelo país em sua aliança quase carnal com os EUA.
Para um grupo expressivo de colombianos, os EUA exercem uma espécie de intervenção branca no país, focando apenas nas suas prioridades, deixando para um segundo plano, o desenvolvimento social e econômico, principalmente das regiões assoladas pelo narcotráfico, o crime organizado e as guerrilhas.
Esse fracasso pode jogar no colo de Gustavo Petro, uma eleição que ainda se mostra difícil. A direita e o centro terão que buscar um entendimento que seja capaz de dirimir as desconfianças. Washington sabe que as relações com Bogotá serão complicadas, caso o cenário revelado pelas pesquisas, se confirme. Inclusive, porque Petro é aliado de Maduro e os dois países dividem uma fronteira contínua de 2.219 Km.
Imagem: Metro1