Os colombianos retornam às urnas para eleger, em segundo turno, seu próximo presidente. Com os partidos e políticos tradicionais fora do jogo, as eleições colombianas agitam o imaginário regional e já geram muitas dores de cabeça em Washington.
No próximo domingo, 19, a Colômbia realiza o segundo turno das eleições presidenciais entre Gustavo Petro, da aliança de esquerda Pacto Histórico, e o conservador de direita Rodolfo Hernández, que surpreendeu na reta final. No primeiro turno, mais de 20 milhões dos 38,8 milhões de eleitores, foram às urnas. A Colômbia decidirá entre dois extremos, deixando de fora, partidos e políticos tradicionais.
Pedro conquistou 40,32%, enquanto que o ex-prefeito de Bucaramanga, somou 28,15%. Principal nome da política mais tradicional, de centro, da Colômbia, Federico Gutiérrez decepcionou com apenas 23,9%. O cenário mostra um quadro claro de insatisfação e, ao mesmo tempo, decisão, por parte dos colombianos.
Decisão em apostar por extremos que nunca estiveram no poder. Gustavo Petro, ex-guerrilheiro do M-19, é senador e perdeu as presidenciais para Iván Duque, em 2018. Não dá para dizer que se trata de um outsider da política. Hernández, com 77 anos, é um rico empresário cujo crescimento junto ao eleitorado não foi detectado pelos institutos de pesquisa.
Petro também foi prefeito de Bogotá, a capital colombiana. Sua gestão foi marcada pelo desastre administrativo e muito retrocesso. Já Rodolfo Hernández deixou o cargo de prefeito com quase 70% de aprovação. O resultado do primeiro turno mostra que a maioria dos colombianos ignora o que se passa em sua capital. Os colombianos querem descentralização, desconcentração do poder e, claro, resultados.
O atual presidente Iván Duque, deixa o cargo com um saldo bastante negativo. Apesar dos cinco anos do acordo de paz entre o governo e as FARC, a violência voltou com força. Há dissidência da guerrilha por toda parte. O ELN que rejeitou o diálogo, tem sabotado linhas de transmissão de energia e gasodutos.
Some-se a esse drama, o ressurgimento dos cartéis de drogas, os paramilitares e a falta de infraestrutura social e econômica que assola grande parte da Colômbia. De acordo com o Banco Mundial, 40% dos colombianos vivem na pobreza e o país, dono de uma beleza e biodiversidade exuberantes, está entre os mais desiguais do planeta.
Petro trata de tirar vantagem dos números e explorar a incapacidade dos políticos de transformarem socialmente o país. Hernández, por sua vez, construiu uma campanha fincada no combate à corrupção e ao establishment político. Seus discursos ecoaram. Agora, será a vez de escolher entre dois modelos que não guardam relação com o convencional.
Por outro lado, independentemente de quem ganhar, o próximo presidente colombiano terá muitas dificuldades para governar. As eleições de março entregaram um Congresso fracionado, onde nenhum partido chegou perto da maioria.
Esse é um elemento que pode, no frigir dos ovos, ser decisivo. Afinal, quem terá mais condições de negociar? Gustavo Petro representa uma esquerda radical, enquanto Hernández, seria uma verdadeira incógnita. Em comum, o desejo de tornar a Colômbia um país mais independente, especialmente dos EUA.
Não resta a menor dúvida que as relações entre Bogotá e Washington, terão de ser repensadas e relançadas. Na Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles, entre 6 e 10 de junho, Iván Duque antecipou esse cenário ao presidente Joe Biden. A Casa Branca terá de rever a forma como lida com seu principal aliado na região já a partir do dia 20.
Para os EUA, perder um aliado histórico como a Colômbia seria a pá de cal para a administração democrata na sua tentativa de voltar a exercer influência na América do Sul. No Capitólio, as preocupações não são menores, afinal, o Congresso dos EUA despeja, há décadas, milhões de dólares para a Colômbia.
InfoRel
Por Marcelo Rech
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