Os EUA e os golpes de Estado

por | jul 19, 2022 | 23h

Ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA admite ter trabalhado na organização de golpes de Estado para defender os interesses de Washington e comunidade internacional reage chocada, apesar do histórico de intervenções e apoio à ditaduras em nome da democracia.

No dia 13 de julho, John Bolton, o ex-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca no governo de Donald Trump, falou abertamente sobre os golpes de Estado arquitetados pelos EUA em várias regiões do mundo. Suas palavras chocaram a comunidade internacional como se revelasse algo que ninguém sabia.

Ao ser questionado se a invasão ao Capitólio, em Washington, em 2021, não teria sido uma tentativa de golpe, Bolton afirmou: “Como alguém que ajudou a planejar golpes, não aqui, mas em outros países, dá muito trabalho, e não foi o que [Trump] fez”. O sincericídio de Bolton apenas desnudou uma realidade histórica de ingerência e intervenção norte-americana, nos cinco cantos do planeta.

Na América Latina, há um prontuário larguíssimo de intervenções para derrubar regimes e implantar outros. O ex-presidente dos EUA, Richard Nixon, costumava dizer que era preciso “colocar o nosso FDP no poder”. Um dos intentos de golpe, que teve a participação de Bolton, deu-se em 2019, na Venezuela, quando os EUA tentaram derrubar Nicolás Maduro.

John Bolton já havia assessorado os presidentes Ronald Regan e George Bush (pai e filho) e, no biênio 2005-2006, foi o representante dos EUA nas Nações Unidas. Ele também foi um dos ideólogos da invasão do Iraque em 2003 e do endurecimento das pressões dos EUA contra Cuba e outros regimes de esquerda na região.

Republicano, John Bolton defende suas ações como se não tivesse cometido crime algum. No caso venezuelano, resignou-se a dizer que “a oposição não fez a sua parte e o golpe não funcionou”. Para ele, vale tudo na defesa dos interesses dos EUA, inclusive subverter a democracia em nome da….democracia.

Em que pese a gravidade de sua jactância, Bolton deu uma grande contribuição ao mundo, ao reconhecer o que sempre se soube e expor, de forma tão explícita, a hipocrisia dos EUA. Os mesmos EUA que pregam o respeito às instituições e às regras, são os que demonizam e santificam líderes, de acordo com seus próprios interesses.

Por Marcelo Rech

InfoRel

Imagem: Reprodução