Desde janeiro de 2019, a Europa como um todo decidiu que o grande vilão internacional era o Brasil, que não cuidava da Amazônia. As pressões ganharam as manchetes da imprensa em geral e a União Europeia decidiu que era momento de colocar em “estado de espera” o Tratado de Associação Comercial firmado com o MERCOSUL, após mais de 20 anos de negociações.
Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi taxativo ao afirmar que “se não abrir mercado, a Europa será irrelevante para o Brasil”. Ele também aconselhou: “É melhor vocês nos tratarem bem, porque senão vamos ligar o ‘foda-se’ para vocês”, disse, dirigindo-se especificamente à França. Paulo Guedes lembrou ao ministro francês que o comércio com a China, por exemplo, já ultrapassa em muito as compras europeias.
O presidente Emmanuel Macron tem sido um dos principais críticos do Brasil usou a Amazônia para reeleger-se com o apoio do setor agrícola do país, que recebe subsídios governamentais, mas não consegue competir com o agro brasileiro. “Quando começou essa guerra na Ucrânia, a ficha caiu tanto para eles quanto para os EUA”, afirmou, ao falar em um evento com o setor de bares e restaurantes brasileiros.
Guedes apenas externou aquilo que é sabido e notório: a França, cuja Embaixada em Brasília, realiza eventos políticos de apoio à esquerda, insuflou o bloco para que o Brasil tivesse o ser comércio agrícola boicotado. Além disso, o protecionismo europeu também busca atrasar o ingresso do país na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
O Brasil é o país não membro que mais aderiu aos instrumentos da organização. No início do ano, a OCDE anunciou o início das negociações para a adesão brasileira, que pode levar entre dois e três anos para ser concluída. Trata-se de um reconhecimento aos esforços por modernizar a governança e atacar a corrupção, entre outras ações.
“Uma vez tinha um ministro da França lá que me falou ‘você está queimando a floresta’. E eu falei: ‘você está queimando Notre-Dame. Que acusação idiota. Você não está queimando Notre-Dame, mas é um quarteirão e você não conseguiu impedir, pegou fogo. Agora, nós temos uma área que é maior que a Europa e vocês ficam criticando a gente”, explicou o ministro.
Recentemente, um grupo de eurodeputados veio ao Pará para ver as queimadas. Isso, enquanto a Europa arde em chamas. Até o dia 13 de agosto, mais de 660 mil hectares de mata – a Europa não tem mais florestas há décadas – haviam sido consumidas pelo fogo, de acordo com o Sistema Europeu de Informações sobre Incêndios Florestais (EFFIS).
Em dezembro, eles voltam para recolocar o Brasil nas manchetes, ao menos que a esquerda ganhe em outubro. De momento, o fogo vai pelando na Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal, Polônia, Grécia, França, Croácia, Eslovênia, Romênia, depois de ter passado, também, pelo Reino Unido. Mas, por lá, é “temporada dos incêndios”.
Tanto que não vimos nenhum ativista juvenil ou estrela hollywoodiana se insurgindo contra possíveis desmandos, incompetência e as agressões ao meio ambiente. Em dezembro, provavelmente, essas pessoas voltam para recolocar o Brasil nas manchetes.
Já o “esquecido” acordo comercial entre o MERCOSUL e a União Europeia, demonizado e jogado na lata do lixo pelos radicais climáticos, agora pode representar a salvação da Europa, quem diria. Representantes da UE vieram atrás do Brasil, olha que loucura.
Claro, com a guerra no Leste e o impacto nas cadeias globais de valor, o Brasil, um dos principais celeiros do mundo, ganhou relevância ante a soberba e a presunção europeias. Por tanto, toda a questão ambiental perdeu importância. A Europa necessita da commodities agrícolas, minerais e energéticas. Quer fugir da dependência russa e não cair nas garras da China.
Para aqueles que ainda acreditam que a Política Internacional se move por questões ideológicas ou altruísmo, a UE presta um grande serviço. A política busca resultados e votos. Sem eles, sem poder. Sem poder, irrelevância. Para preservar seus privilégios, vale até reverenciam Jair Bolsonaro.
Por Marcelo Rech
InfoRel
Imagem: Benjamin Guillot-Moueix / Hans Lucas