A Política Externa Brasileira no processo eleitoral

por | ago 23, 2022 | 20h

Tradicionalmente, a Política Externa não é um tema prioritário nos processos eleitorais brasileiros. Trata-se de um elemento que não rende votos. Às pessoas, o que realmente interessa é a política doméstica. Raríssimos são aqueles que se mobilizam para escolher um candidato com base em seu programa de governo voltado para as relações internacionais.

Isso vale para o Brasil e para a grande maioria dos demais países, com exceção, talvez, aos EUA cujos interesses econômicos e geopolíticos estão em todas as partes do planeta. Mais recentemente, a questão internacional também aflorou muito na Europa, com questionamentos cada vez mais duros quanto ao preço de uma União em comparação com a situação decadente da zona do euro.

No caso do Brasil, estamos entre dois modelos bem claros. As eleições de outubro se definirão em um segundo turno com dois candidatos antagônicos e um processo marcado pela polarização e a desinformação. O ex-presidente Lula disputa sua sexta eleição presidencial. Jair Bolsonaro busca a reeleição.

É possível dizer que ambos têm, pela frente, oponentes fortemente competitivos. Lula terá, em outubro, 77 anos. Já não é um garoto, embora seu discurso continue no passado. O ex-presidente esbanja arrogância ao atacar o atual presidente, fazendo caso omisso aos escândalos de corrupção no qual ele e seu partido se veem envolvidos há décadas.

Bolsonaro, com 67 anos, tampouco é um novato na política. Ele terá, nesta eleição, de prestar contas de seu primeiro mandato. À diferença de 2018, quando chegou a ser apresentando como um outsider da política, algo que não era, agora, ele terá de responder por suas ações à frente do Executivo.

Em seus respectivos programas de governo, a política internacional mereceu pouco destaque. Não é algo que surpreenda. O foco está nos desafios domésticos. O Brasil, de hoje, é um país muito melhor que há cinco anos. Os números falam por si. Em comparação com a vizinhança, os EUA e a Europa, o Brasil é um oásis.

No entanto, não são poucos os problemas que cobram ações urgentes, razão pela qual, priorizar a política internacional não passa pela cabeça de nenhum deles. O cenário atual, sobretudo na América do Sul, é de retomada do poder pelas forças de esquerda. Foi assim na Argentina, Bolívia, Peru, Chile e, mais recentemente, na Colômbia.

O Brasil, no entanto, é a “noiva cobiçada”, a joia da Coroa. O resultado das urnas poderá inclinar essa balança ainda mais. Em 2023, Argentina e Paraguai realizarão eleições. A eleição brasileira influenciará em ambos. Desde já, mecanismos como o Foro de São Paulo e a CELAC, discutem as estratégias a serem adotadas na América Latina, caso Lula retorne ao poder em 2023. Para esse grupo, a reeleição de Bolsonaro seria um enorme atraso de vida.

Vale aclarar, ainda, que Lula, em termos de política internacional, guia-se muito mais pelo espírito ideológico. Ele buscará um alinhamento com as forças de esquerda na região e fora dela. Neste sentido, Bolsonaro mudou bastante. As frustrações com Trump, cuja administração não entregou nada ao Brasil, e sua viagem à China ainda no primeiro ano de governo, foram determinantes.

São dois fatos que marcaram o início do fim da gestão ideológica de Ernesto Araújo à frente do Itamaraty e a salvação da Casa de Rio Branco por Flávio Rocha, o chefe da SAE. O Almirante foi determinante para que Carlos França assumisse o posto de chanceler, apaziguasse os ânimos e controlasse a corporação. Rocha também foi quem apartou do presidente os mais despreparados para aconselhá-lo.

Hoje, os grandes temas geopolíticos são tratados na SAE. O Brasil adotou posturas muito mais equilibradas e os resultados são tangíveis. À título de ilustração, a forma como o Brasil agiu com relação à guerra da Rússia contra a Ucrânia. O presidente entendeu que o interesse nacional era muito mais urgente.

Apesar das críticas da elite intelectual, o país não corre riscos de desabastecimento ou de insegurança energética e alimentar, ao contrário, por exemplo, da Europa politicamente correta. Pequim também não para de prospectar investimentos no Brasil – Bolsonaro não se envolveu nas tensões em curso no Sudeste Asiático – e, à diferença de alguns, não vê problema algum na reeleição do presidente.

Lula, eleito, retornará Celso Amorim que um dia foi um excelente embaixador, para retomar a tal “Política Externa Ativa e Altiva”, alinhando-se com ditaduras de esquerda e todo aquele que demonize os EUA. Ele dará o sinal verde para a ressurreição da UNASUL, da CELAC, desviará o MERCOSUL para uma agenda mais política e menos comercial, e acederá às pressões petistas para fazer tremular as bandeiras da Palestina e do Sahara Ocidental.

Por Marcelo Rech

InfoRel

Imagem: Ricardo Stuckert