Nesta terça-feira, 20, o presidente Jair Bolsonaro, discursará na abertura da 77ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Cumprindo com uma tradição que remonta aos anos 50, o presidente brasileiro terá a oportunidade de falar para os públicos interno e externo, em plena campanha à reeleição.
Trata-se de um privilégio que seus adversários não terão. No entanto, a vantagem é muito pequena. Bolsonaro aproveitará para amplificar as conquistas do seu governo que teve de lidar com uma pandemia e uma guerra na Europa.
É fato que o Brasil apresenta números invejáveis se comparado com os demais, principalmente os vizinhos, os EUA e a Europa. O país consolidou-se como a 10ª economia mundial, tem a inflação controlada, bate recordes de exportação e já é o 4º do mundo em atração de investimentos estrangeiros.
Por ouro lado, convive com mazelas vergonhosas, enraizadas em suas periferias e que vão da violência ao mais abjeto desrespeito à dignidade humana. Lamentavelmente, o Brasil ainda é um país onde há pessoas revirando lixeiras em busca de algo para comer.
O Brasil é um país riquíssimo em recursos, mas miserável quando o assunto é a desigualdade. Uma desigualdade que o presidente, claro, não exibirá no púlpito das Nações Unidas. Ao líder de turno, cabe exaltar-se à si e conferir-lhe os méritos das boas ações.
Poderíamos estar piores? Sem dúvida, alguma. É sempre possível, tendo os políticos que o Brasil tem. Para uma grande maioria, é cavando cada vez mais, que o país poderá (?) sair do buraco. Lamentavelmente, há mais gente travando e impedindo que o país arranque, que ajudando-o a desenvolver-se.
Bolsonaro irá falar sobre Meio Ambiente e irá defender as políticas ambientais do seu governo no momento em que a Europa arde em chamas e resgata velhas tradições como usar carvão, plantar em áreas protegidas e reativar usinas nucleares.
Tudo isso, sem deixar de apontar o dedo para a nossa Amazônia. Seria bom se o presidente tivesse uma política definitiva para àquela região, uma política capaz de fortalecer a soberania brasileira e retirar, ao mesmo tempo, o discurso hipócrita de uma Europa arrogante e presunçosa.
No entanto, não temos. Em vez de brigar com os números e os fatos, o Brasil precisa despertar de uma vez para a importância estratégica da Amazônia e fazer valer o seu direito sobre a região, apostando no desenvolvimento sustentável para, entre outras coisas, atender aos mais de 20 milhões de brasileiros que lá residem.
A ONU é, sem dúvida, uma grande vitrine internacional, para o bem e para o mal. O desempenho do presidente será escrutinado com uma lupa. Cada vírgula, cada sentença. Tudo será interpretado minuciosamente, como se o futuro do planeta dependesse deles, do presidente e do seu discurso.
Quando Bolsonaro subir na tribuna da ONU, estará faltando apenas 12 dias para o primeiro turno das eleições. Mas, na boa, o seu discurso não irá acrescentar votos nem lhe fará perdê-los. No final, só servirá para os “grandes analistas geoestratégicos”, nas emissoras de TV e nos partidos, darem seus vereditos supremos.
É fato que a maioria dos líderes mundiais, não gosta do presidente brasileiro. Assim como é fato que todos eles, representam uma geração de líderes fracos, confusos e praticamente inúteis. A guerra na Europa, suas causas e desdobramentos, confirmam essa máxima. Então, tanto faz como tanto fez.
Por Marcelo Rech
InfoRel
Imagem: UN