Nesta terça-feira, 20, o presidente Jair Bolsonaro, falou pela quarta vez à Assembleia Geral das Nações Unidas, seguindo uma tradição que vem de 1956. Nos seus 15 minutos, o presidente brasileiro enalteceu o seu governo, as conquistas econômicas em meio à uma pandemia e uma guerra e, claro, aproveitou para criticar a esquerda.
O discurso do presidente foi equilibrado, focado na economia, onde o Brasil, de fato, apresenta números muito bons em comparação com o caos na Europa, nos EUA e na vizinhança. E é preciso ter claro que nenhum presidente, de lugar algum, sob nenhuma hipótese, irá ocupar o púlpito da ONU, para reconhecer erros e problemas.
Este Brasil que Bolsonaro apresentou ao mundo, não é bem assim. Segue sendo um país extremamente desigual, com muita pobreza, muita injustiça, um corporativismo exagerado, e que necessita muitas outras ações para situar-se como a grande Nação que é.
Por outro lado, justamente por sua força de país continental, o Brasil é parte da solução e não dos problemas. No caso do Covid, se houve má gestão da crise – e houve -, também houve sensibilidade. O Brasil foi o primeiro e um dos raríssimos países em conceder um auxílio financeiro para 68 milhões de pessoas. Muitos países têm menos população que isso.
Também é fato que a corrupção institucionalizada, acabou. As estatais, hoje, dão lucro. Entre 2003 e 2005, apenas a Petrobras, teve um rombo de US$ 170 bilhões por conta da corrupção, loteamento político e má gestão. O Brasil de hoje, não guarda relação com o Brasil de um passado muito recente.
O presidente também destacou o apoio econômico, por meio do Auxílio Brasil, para 20 milhões de famílias que recebem o equivalente a US$ 4 diários. Um país que leve a sério o combate à fome e à pobreza extrema, deveria, na verdade, envergonhar-se de manter um programa dessa natureza.
Faço sempre questão de lembrar minha cientista política preferida, a Mafalda, de Quino. Sábia como toda menina de 7 anos, ela não aceita que o Urgente se sobreponha, sempre, ao Importante. O Brasil do passado e o de hoje, continuam priorizando o Urgente e quando tudo é Urgente, nada é importante.
Temos um agro fortíssimo, somos chamados a integrar o Clube dos Ricos, a OCDE e temos um papel fundamental no acolhimento de refugiados. Na questão ambiental, também somos modelo, ainda que a Europa arrogante, insista em demonizar-nos. O Brasil tem mais de 60% do seu território preservado, enquanto essa mesma Europa retoma o carvão e devasta florestas para o plantio. Tudo por conta de decisões estúpidas tomadas por líderes fracos e desqualificados.
De uma vez por todas, o Brasil precisa de uma política para a Amazônia, para atender aos anseios dos seus mais de 20 milhões de habitantes. Desenvolvimento com Soberania. Da Amazônia, cuidamos nós. Do seu subsolo, vamos extrair, com respeito ao meio ambiente, tudo aquilo que servirá, entre outras coisas, para fortalecer a nossa independência.
E, enquanto à guerra na Europa, que já dura sete meses, o presidente foi claro ao defender uma solução negociada. O Brasil condenou a Rússia no Conselho de Segurança, pela violação da soberania ucraniana. Fez o que tinha de ser feito, sem espetacularização.
Ao mesmo tempo, o Brasil assegurou a importação de fertilizantes que garantem a produção de alimentos. Foi a chefe da Organização Mundial do Comércio quem agradeceu ao país por impedir que 1 bilhão de pessoas passasse fome em todo o mundo.
No dia em que levarmos mais a sério as preocupações da Mafaldinha, colocando o importante como prioridades, então poderemos apresentar ao mundo um país mais forte e justo. Seria bom que todos a seguissem em vez de serem tão hipócritas.
Por Marcelo Rech
InfoRel
Imagem: Brendan McDermid