Na recente viagem do presidente Jair Bolsonaro a Londres e Nova York, ficou patente que a diplomacia brasileira há muito não é mais a mesma. Um dia, alguém disse que se tratava da mais profissional do mundo e, no Itamaraty, acreditaram. Em geral, o corpo diplomático brasileiro é muito bom, mas essa aura de intocáveis, que foi criada sabe-se lá por quem, não cola mais.
O Ministério das Relações Exteriores mostra-se muito mais preocupado com os protocolos do que com o mundo real. Internamente, uma guerra fraticida por promoções e remoções, deixa de lado, a própria agenda internacional. Isso sem falarmos dos inúmeros casos de assédio (de todo tipo) e rompantes de embaixadores mundo afora.
É como se o Itamaraty vivesse em um mundo próprio, dentro de uma redoma, discutindo a Ordem Mundial entre vinhos de honra e coquetéis tão suntuosos como presunçosos. Não é assim. Na verdade, nunca foi. Alimentou-se essa imagem quando o mundo evoluía.
Há décadas que as Relações Internacionais deixaram de ser monopólio do Ministério das Relações Exteriores, embora a chancelaria se aferre a isso com todas as suas forças. O Itamaraty sempre trabalhou contra, por exemplo, os adidos agrícolas e de inteligência.
Em vez de facilitar-lhes a vida, trata de torna-las um inferno. São profissionais altamente qualificados, mas como não são diplomatas de carreira, são tratados como uma sub-raça. Menos mal que, aos trancos e barrancos, outras instituições vão minando essa resistência própria do Itamaraty. Foram os adidos agrícolas que abriram, nos últimos anos, mais de 50 mercados para os produtos do agronegócio brasileiro.
Dito isso, vale o registro acerca do vexame que foi a participação do Ministério das Relações Exteriores nas viagens mais recentes do presidente da República. Jair Bolsonaro chegou a ficar sem carro para deslocar-se para o edifício das Nações Unidas.
Além disso, o presidente da República é o líder político do país. É um dos poucos que tem o poder de improvisar, de eleger prioridades. O líder político deve, obrigatoriamente, colocar muito mais coisa na balança na hora de ver-se com outras autoridades.
O diplomata é um servidor público que deve orientar, aconselhar e, em última instância, viabilizar as coisas. O que a diplomacia brasileira tem feito, nos últimos anos, é constrangedor. O profissionalismo foi abandonado e deu lugar a uma diplomacia ideológica, em que o sujeito serve de acordo com as suas simpatias e antipatias.
Por Marcelo Rech
InfoRel
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