Encerrado o processo eleitoral, o Brasil precisa, urgentemente, de pacificação. É pouco provável que o presidente eleito contribua para isso, mas cabe à sociedade como um todo, exigir que o país pare de olhar no retrovisor e mire o horizonte que vem por aí.
O cenário internacional não é nada bom. A guerra no Leste da Europa segue escalando enquanto as organizações internacionais como a ONU, a UE e a OTAN, dão mostras cada vez mais claras de que existem apenas para sustentar uma burocracia inerte.
Desde 2014, pelo menos, vimos a corda ser esticada à exaustão. Não há mocinhos nessa história. A elite política se omitiu, em 2013, quando as pessoas voluntariamente, saíram as ruas para protestar contra a corrupção. Os protestos não tiveram líderes políticos nem bandeiras partidárias.
O que deveria ser exaltado, foi duramente criticado pela imprensa tradicional. O grosso da população saiu às ruas para dizer basta aos políticos em geral. Não foram protestos contra esse ou aquele, mas contra todos. Acuados, os políticos, de esquerda e de direita, enjambraram um monstrengo no Congresso para tentar dar alguma satisfação. De concreto, nada.
Em 2016, o sistema entendeu que não dava mais e um impeachment foi aprovado. Com a economia ruindo rapidamente, até mesmo o partido de esquerda no poder, alimentou o processo nos bastidores. Era necessário sacrificar a presidente para recuperar algumas míseras bandeiras.
Dois anos depois, um deputado com 28 anos de Congresso, foi considerado um outsider da política e foi eleito presidente. Foram, até o momento, quase quatro anos de enfrentamentos. Jair Bolsonaro governou como se estivesse permanentemente em campanha.
Crises desnecessárias foram alimentadas e os perdedores, legitimados por um discurso sempre belicista. O presidente deparou-se com uma pandemia e perdeu, com ela, a grande oportunidade de firmar-se como um estadista. O país precisa de um líder. A esquerda agonizava. A elite política, mais uma vez, se omitia.
Bolsonaro fez pouco caso do problema, demorou a agir e mostrou-se desumano com as milhares de mortes. Apesar disso, o país ainda conseguiu lidar com a crise de forma razoável, mas o estrago já estava feito. A pecha de genocida pegou e quando um apelido pega, já era.
Veio a guerra e o Brasil portou-se melhor. Condenou a invasão da Ucrânia, no Conselho de Segurança da ONU, enquanto o presidente negociava a importação de fertilizantes com a Rússia. O interesse nacional foi posto à frente e a postura do país foi elogiada.
Nos dois últimos anos do seu mandato, o presidente também conseguiu acelerar as ações na economia que permitiram ao Brasil, controlar a inflação, reduzir impostos e baixar os preços dos combustíveis. Em comparação com os demais países da região, o Brasil é uma ilha de estabilidade econômica.
Agora, um dos principais desafios do novo velho presidente eleito, é governar em minoria. O Congresso Nacional saído das urnas é majoritariamente de direita e conservador. Claro, tem um grupo grande de fisiológicos que se vendem facilmente, mas as pautas tradicionais e históricas da esquerda, terão muitos problemas.
O presidente eleito terá, ainda, que materializar a pacificação e conciliação prometidas durante a campanha. Será algo bem complicado. Mais de 95 milhões de brasileiros – que votaram branco, nulo, se abstiveram ou votaram em Bolsonaro – não aprovam a esquerda.
Muitos milhões de brasileiros que rejeitam o presidente eleito, seu partido e o passado recente, não são bolsonaristas e isso precisa ser compreendido por aqueles que assumirão os rumos do país em 1º de janeiro de 2023. As urnas enviaram várias mensagens, resta saber se serão entendidas.
Por Marcelo Rech
InfoRel
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