O novo ministro e as velhas políticas

por | dez 12, 2022 | 17h

Para comandar o Ministério da Defesa, o presidente eleito escolheu um ex-deputado discreto e que vinha atuando como lobista. Ele terá de entregar os “brinquedinhos” exigidos pelos militares para que as Forças Armadas não criem problemas para Lula

Na sexta-feira, 9, o presidente eleito aproveitou o “feriado nacional” por conta do jogo do Brasil contra a Croácia, para anunciar o primeiro pacote do seu ministério que deverá ter pelo menos 39 titulares. A ideia era sintonizar uma coisa com a outra, contando com a festa (pela vitória brasileira no Qatar) que não veio.

A derrota da seleção, acabou tornando o anuncio, ainda mais relevante. Algumas primeiras impressões desnudam a diferença entre uma campanha, onde se pode dizer o que bem entender, e a montagem de um governo, que cobra mais responsabilidade.

Em primeiro lugar, foram anunciados cinco homens, todos brancos, dois petistas de carteirinha. Um pseudocomunista, um lobista e um diplomata tipo Série B. Nenhuma mulher, negro, índio, trans. Uma nova leva de indicados deve sair do forno entre hoje e a próxima sexta.

Para a Defesa, o indicado é o ex-deputado federal de Pernambuco, ex-ministro de Lula, entre 2007 e 2009, quando foi indicado para o Tribunal de Contas da União (TCU), onde chegou a ser presidente.

José Múcio Monteiro não é do PT e nem mesmo da esquerda. Vinha atuando como consultor, um eufemismo muito presente em Brasília, para lobista. Era parte de uma empresa de comunicação cujos principais clientes são empresas chinesas.

Múcio Monteiro tem o perfil que agrada ao presidente eleito: é discreto, educado, leal. É o homem que Lula quer para amansar a tropa. Como as relações entre a esquerda e as Forças Armadas andam esgarçadas, o novo ministro terá de seduzir os militares.

A receita para isso passa por velhas políticas já adotadas, inclusive nos 14 anos em que a esquerda governou o país. José Múcio Monteiro irá priorizar a execução dos Projetos Estratégicos, que englobam algumas das principais prioridades para as Forças Armadas.

Dito de outra forma e parafraseando Lula, o ministro irá trabalhar para dar aos militares, os “brinquedinhos” que os manterão longe da política. Para tanto, contará com os comandantes militares, indicados pelas forças e respeitados pelo presidente eleito.

Apesar de ser pernambucano, o novo ministro terá de comer pelas beiradas, para evitar tensões entre o futuro governo e as Forças Armadas. Não são apenas os adjetivos pejorativos usados por Lula e vários de seus amigos íntimos, contra os militares, mas também a imposição legal de que eles batam continência a um ex-presidiário.

Isso incomoda e muito. Nada que a retórica não dê um jeito, mas a julgar pelo que corre nos bastidores da transição com seus 940 integrantes, as relações entre o governo civil e os militares, será difícil e permanentemente tensa. Os primeiros três meses nos dirão exatamente se a conveniência mútua resolve.

Por Marcelo Rech

InfoRel

Imagem: BBC