Com o retorno de Lula ao poder, uma Política Externa mais ativista deverá ser implementada pelo Itamaraty. Mauro Vieira, o futuro ministro, será, na verdade, o segundo na hierarquia. Celso Amorim, do Planalto, será o chanceler de fato. E para Amorim, é fundamental que o Brasil retorne à cena internacional como protagonista.
Uma das bandeiras históricas da esquerda diz respeito ao Estado Palestino. Nos últimos anos, o conflito entre Israel e Palestina esfriou muito. Além do cansaço geral dos atores envolvidos, o mundo teve de priorizar o enfrentamento da pandemia e viu, inerte, uma nova guerra na Europa ser deflagrada.
No governo Bolsonaro, o único movimento objetivo, fora o alinhamento automático com Israel, foi a tentativa de mudar a Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Uma decisão que, felizmente, foi abortada. Bolsonaro queria apenas copiar Donald Trump, fazendo algo descabido.
Agora, se vislumbra um interesse maior, diferente, de envolver o Brasil numa solução que seria histórica. A dupla Lula-Amorim adora esse tipo de coisa. Já nos primeiros meses do futuro governo, o Itamaraty deverá indicar um novo Embaixador para Israel, mais afinado com a esquerda, além de trocar o representante em Ramallah, onde o país mantém um escritório diplomático.
Quanto ao conflito em si, é pouco provável que haja qualquer movimento no curto e médio prazo. Os EUA e a Rússia, mais a China, têm outras prioridades e o Conselho de Segurança da ONU, de certa forma, prefere que as coisas permaneçam adormecidas.
Trata-se de um vespeiro eivado de complexidade e com muitas áreas cinzentas. Para que o Brasil volte a tratar do tema, é preciso que alguém com “força” o coloque no radar da comunidade internacional. Os europeus também andam muito ocupados com o frio congelante chegando.
Por outro lado, a composição do futuro governo israelense pode ser a chama a acender o pavio. No dia 21, Benjamin Netanyahu, anunciou a conclusão de um acordo que lhe permitirá formar governo. Ao que tudo indica, ele terá em seu gabinete, integrantes dos partidos ultraortodoxo Shas e Sionismo Religioso, de extrema-direita. Caso entregue cargos de liderança para o grupo, as tensões com os palestinos serão incrementadas.
Netanyahu, por sua vez, quer aproveitar a oportunidade em que há uma total fragmentação e falta de renovação das lideranças palestinas na Cisjordânia (Fatah) e na Faixa de Gaza (Hamas). Esse quadro dificulta qualquer possibilidade de se retomar negociações. Contribui, também, o aumento e a disseminação dos grupos palestinos armados autônomos. Esses grupos são completamente refratários às lideranças tradicionais palestinas.
Jordânia e Egito, por exemplo, tradicionais moderadores regionais, não veem boas perspectivas para o futuro do conflito.