A importância da neutralidade do Brasil no conflito entre Rússia e Ucrânia

por | fev 16, 2023 | 11h

Durante a campanha eleitoral de 2022, o então candidato Lula afirmou que a Ucrânia era tão responsável pela guerra na Europa, quanto a Rússia. Disse, ainda, que resolveria o problema tomando cerveja em um bar. Essas duas expressões, vindas da mesma pessoa, gera muitos temores.

Ao afirmar que a Ucrânia era tão responsável pelo conflito quanto a Rússia, Lula buscou, mais uma vez, equilibrar-se para evitar tomar uma posição. Neste caso específico, a neutralidade é muito bem-vinda. Apesar do propalado retorno do Brasil à cena internacional, ainda não nos sentamos à mesa das grandes decisões.

Tendo essa realidade como pano de fundo, o Brasil vinha apostando na neutralidade como forma de preservar os seus interesses. Como dependemos em grande medida dos fertilizantes russos, é preciso adotar uma postura que fosse, ao mesmo tempo, cautelosa e corajosa.

A neutralidade em relação à guerra, era uma das poucas coisas em que Lula e Bolsonaro se aproximavam. Desde o início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, o Brasil vinha atuando de forma clara no Conselho de Segurança da ONU, como deveria, e sem envolver-se no mérito do imbróglio, fora dele.

Lula havia, ainda, responsabilizado, além de Volodomyr Zelenski, Putin, os EUA, a União Europeia e a OTAN. Para ele, todos tinham a sua parcela de culpa pela guerra. Já no dia 10, em Washington, Lula voltou atrás. Abandonou a neutralidade e acusou fortemente o líder russo.

E o fez ao improvisar e sugerir a formação de um grupo de países neutros, para lidar com o problema e buscar a paz. Foram mensagens contraditórias, uma vez que a neutralidade fora perdida no momento exato em que o presidente brasileiro, para agradar o seu anfitrião, desceu a ripa no chefe do Kremlin.

É fato que Rússia e China são os grandes rivais dos EUA. Para Washington, é ainda mais descabido quando Moscou e Pequim decidem aumentar suas presenças na América Latina, o quintal da Casa Branca. No dia 19 de janeiro, a chefe do Comando Sul do Exército dos EUA, a general Laura Richardson, chegou a cobrar a doação de equipamentos militares russos, dos países latino-americanos, para ajudar a Ucrânia.

Nos últimos anos, a Rússia vendeu e doou muito armamento para os países da região. No entanto, a exigência não tem pé nem cabeça. Qualquer país que fizer isso, que entregar armas para serem usadas contra quem as fabricou, perde por completo toda a confiança e credibilidade como parceiro.

Já no dia 30, foi a vez do chanceler alemão, Olaf Scholz, reiterar o pedido, desta vez, em pessoa ao presidente brasileiro. Lula afirmou de forma contundente que o Brasil não iria entregar munições à Ucrânia e que o país não teria qualquer participação, mesmo que indireta, na guerra.

Em conversa com o seu novo melhor amigo, o francês Emmanuel Macron, dias depois, Lula reiterou a disposição do Brasil em ficar fora do entreveiro, incluindo operações de guerra contra a Rússia. Ele sinalizava, no entanto, a disposição em colocar o país em uma possível mesa de diálogo pela paz.

Essa postura é tradicional da Política Externa Brasileira. Principalmente quando se trata de um conflito geograficamente distante. No ano passado, Bolsonaro foi duramente criticado por ter se encontrado com Putin, mas a visita foi decisiva para que o Brasil não sofresse ainda mais com os impactos da guerra.

Agora, temos um presidente que tenta equilibrar-se entre os parceiros do BRICS e o reconhecimento da Casa Branca. Talvez, a melhor forma de ser reconhecido seja colocando, de forma pragmática, o interesse nacional à frente do que o Ocidente quer ou exige do Brasil. Neste caso, manter a neutralidade ainda é a melhor opção.

Por Marcelo Rech

InfoRel

Imagem: Jovem Pan