Em 24 de janeiro, realizou-se em Buenos Aires, a 7ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), mecanismo criado para abrigar Cuba e enfraquecer a Organização dos Estados Americanos (OEA), cuja sede fica em Washington.
A CELAC foi fundada em 3 de dezembro de 2011, em Caracas. Em fevereiro de 2010, na Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe, discutiu-se sobre a criação de um mecanismo que não contasse com as presenças dos EUA e do Canadá, no hemisfério; nem de Espanha e Portugal, presentes na Cúpula Ibero-americana.
Era preciso, segundo os “pais fundadores” Lula, Chávez, Cristina Kirchner, Evo Morales e Raul Castro, que a região contasse com uma entidade integrada apenas pelos latino-americanos e caribenhos, que a região pudesse tratar dos seus problemas e prioridades, sem a ingerência anglo-saxã e europeia.
Cuba foi, sem dúvida, a grande arquiteta do projeto anti-imperialista. Expulsa da OEA em 1962, Cuba não aceitou retornar à entidade em 2009. O país também não era convidado para a Cúpula das Américas, outra iniciativa dos EUA para exercer a sua influência no hemisfério.
Portanto, a CELAC seria o mecanismo de concertação latino-americana e caribenha, desenhado para excluir principalmente os EUA de qualquer discussão acerca da integração regional. Estávamos no auge dos governos de esquerda na região.
Em 2016, com o impeachment no Brasil, o governo de Michel Temer deu as costas para a CELAC e a UNASUL. Em 2019, Jair Bolsonaro sacramentou essa estratégia. Retirou o país da UNASUL e ignorou a CELAC. Mais: junto com Chile e Colômbia, patrocinou a criação do PROSUL.
A CELAC continuou existindo, mas sem a mesma transcendência. O México, de alguma forma, tratou de juntar os cacos que restavam e apostou numa CELAC forte, capaz de fazer sombra à OEA e ressuscitar a velha ambição da esquerda de sepultá-la.
Pois bem, em janeiro, Alberto Fernández, presidente da Argentina, organizou em Buenos Aires, a 7ª Cúpula da CELAC, para dar um palco internacional ao presidente Lula que acabava de retornar ao poder. O evento foi marcado por uma velha retórica e discursos integracionistas no velho estilo da esquerda.
Neste palco, essa mesma esquerda fez vistas grossas para as ditaduras cubana, nicaraguense e venezuelana. Nenhuma novidade, afinal de contas, para a esquerda, essas ditaduras são “democráticas” e humanas, o que não prestam são as ditaduras de direita.
Mas, o evento foi marcado por uma novidade não explicada. O que fazia, numa reunião de Chefes de Estado e de Governo, um emissário da Casa Branca? O que os EUA fazem, agora, como observadores da CELAC? Bom, basta lembrar que o governo de Joe Biden mantém fluido diálogo com Caracas.
Além disso, o governo democrata ignora solenemente as violações de todo tipo praticadas em Cuba e na Nicarágua. Só não deixa de cobrar respeito à democracia no Peru, onde um presidente de esquerda, corrupto, tentou um Golpe de Estado e fracassou.
Dois pesos e duas medidas. Cinismo pragmático, dirão.
Por Marcelo Rech
InfoRel
Imagem: Portal Gov