O desafio de Lula na China: não improvisar

por | fev 23, 2023 | 8h

No dia 27 de março, o presidente Lula desembarcará em Pequim acompanhado por quase todo o seu ministério e mais de 100 empresários de vários setores. O desafio de Lula será “ganhar” o coração de Xi Jinping depois das mostras de amor a Joe Biden, exibidas com pompa e circunstância, na Casa Branca.

Desde a campanha eleitoral, no ano passado, o presidente vinha alardeando o seu encontro com o líder chinês. Depois de vários ensaios não combinados com o lado asiático, parece que agora, o encontro sai. E Lula o quer em grande estilo, claro.

A China é, há muitos anos, o principal parceiro comercial do Brasil. Pragmático, Xi não comprou a ideia do golpe contra Dilma, recebeu Michel Temer, abriu-se para Jair Bolsonaro e está disposto a reverenciar Lula. Para a China comunista, dá igual quem governe o Brasil, o que importa são os seus interesses.

E é interesse da China, que os EUA não atrapalhem. Pequim quer ampliar e aprofundar as relações com o Brasil e a América Latina, mas a região terá de deixar claro com quem prefere caminhar. Em algum momento, Lula terá de optar, tentar agradar a todos, não vai dar certo.

Não se pode esquecer que a própria Casa Branca, não gostou nenhum pouco do comportamento pouco comprometido do presidente brasileiro, em relação ao apoio internacional à Ucrânia. As críticas vieram de todos os lados, especialmente dos assessores mais próximos de Biden.

Para evitar dores de cabeça, Pequim não quer surpresas. Lula terá de seguir um script previamente aprovado pelo PC chinês. Nada de comentários sobre direitos humanos, por exemplo. Lula terá pouca ou nenhuma margem para improvisações.

Além disso, a China quer arrancar o seu apoio para um Tratado de Livre Comércio com o MERCOSUL. O Brasil prefere concluir o processo com a União Europeia e Lula tenta conter o Uruguai que advoga pelo TLC com o gigante asiático.

Será uma prova de fogo para o presidente brasileiro: o Brasil precisa aumentar as suas exportações para não ver a economia degringolar. A China está disposta a comprar mais, mas vai exigir que seus interesses sejam plenamente atendidos. E Washington está de olho neste namoro, doidinho para avacalhar tudo.

Por Marcelo Rech

InfoRel

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