Cúpula CELAC-União Europeia em rota de colisão

por | jul 12, 2023 | 18h

Nos dias 17 e 18 de julho, Bruxelas receberá a primeira Cúpula CELAC-UE, após a pandemia. O evento pretende aproximar as duas regiões, mas para os latino-americanos e caribenhos, é claro o oportunismo europeu. Caso o cenário não mude, podemos ter uma cúpula sem Declaração Final.

A União Europeia insiste, por exemplo, que os países membros da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), firmem um documento de apoio irrestrito à Ucrânia, algo que nem mesmo o Brasil aceita fazer.

Para os europeus, a cúpula representa mais uma oportunidade para isolar a Rússia internacionalmente. No entanto, as ditaduras latino-americanas e caribenhas de Cuba, Nicarágua e Venezuela, simplesmente não aceitam dar às costas a Moscou. Lula também quer manter distância do imbróglio, embora dê a entender o contrário.

Nos meios diplomáticos, circula uma versão absurda do documento que deverá ser assinado ao final do encontro. Os países latino-americanos e caribenhos propuseram a inclusão, na Declaração Final, de um parágrafo sobre a guerra no Leste europeu, exortando todos os países presentes (leia-se, toda a União Europeia), a buscar “soluções diplomáticas sérias e construtivas ao conflito atual na Europa”.

Consta que os países da CELAC enviaram para o Serviço Europeu de Ação Exterior, a chancelaria da UE, um rascunho de 21 páginas, como forma de marcar posição ante a indiferença europeia de negociar a agenda e os documentos conclusivos do encontro, considerando os pontos de vista do outro lado do Altântico.

Como forma de chutar o balde, fizeram constar, ainda, o pedido de “reparações pelos danos causados pela ocupação colonial e a escravidão”, ressuscitando fantasmas incômodos para os europeus. A cobrança, no entanto, não dará em nada.

Não podemos esquecer que a União Europeia, sempre tão ciosa dos valores históricos que a ergueram, sustentam as ditaduras latino-americanas e suavizam os regimes autoritários de Cuba, de olho na indústria do Turismo, e da Venezuela, mirando petróleo, gás e minérios raros.

Extremamente dividida e marcada por rivalidades políticas e ideológicas, a América Latina não quer firmar nada que diga respeito à guerra no Leste europeu. A tendência seria incluir um parágrafo bem genérico, onde os países membros “advogarão por soluções diplomáticas sérias e construtivas ao conflito atual na Europa, por meios pacíficos, que garantam a soberania e a segurança de todos nós, assim como a paz regional e internacional, a estabilidade e a segurança”.

Reparação

Embora a prioridade para a União Europeia seja envolver totalmente os países latino-americanos e caribenhos, no conflito entre Rússia e Ucrânia, para os líderes da região, uma forma de pressioná-los para que desistam da empreitada e lidem com o problema, é ressuscitar fantasmas que aterrorizam a Europa.

Neste caso, tudo relacionado com as práticas políticas nas ex-colônias, como a escravidão. “Reconhecemos a necessidade de tomar medidas adequadas para restaurar a dignidade das vítimas (do tráfico transatlântico de escravos africanos), incluindo reparações e indenizações para ajudar a curar nossa memória coletiva e reverter os legados do subdesenvolvimento”, sublinha a proposta da CELAC, para a Declaração Final.

O grupo vai além: “Reconhecemos e lamentamos profundamente o sofrimento incalculável infligido a milhões de homens, mulheres e crianças como resultado do comércio transatlântico de escravos africanos”. Chance zero deste texto ser minimamente considerado pela UE. Na prática, o que a CELAC quer (leia-se Brasil, Argentina, Cuba e Venezuela) é barganhar. Se a UE abandonar suas pretensões quanto ao envolvimento da América Latina e Caribe, no mérito da guerra na Ucrânia, essa cobrança desaparecerá num passe de mágica.