Rodrigo Campos
Na avaliação do desempenho de governos é essencial considerar tanto os fatores que fortaleceram, quanto os que enfraqueceram o a Indústria de Defesa e Segurança brasileira.
A complexidade de um período, como recentemente foi marcado pela pandemia de COVID-19 e suas implicações econômicas, é sempre um elemento central a ser ponderado.
Dentro desse contexto, é possível identificar diferentes perspectivas quanto ao fortalecimento ou enfraquecimento da indústria.
O Ministério da Defesa, por exemplo, tem orquestrado e empreendido esforços notáveis para apoiar e fortalecer a Base Industrial de Defesa e Segurança do país.
Iniciativas como a Política Nacional da Base Industrial de Defesa (PNBID) e acordos de cooperação em defesa com diversos países demonstram a busca por alternativas e inovações para financiamento e garantias dos negócios do setor são bons exemplos desse esforço continuado.
No entanto, a anunciada, mas não efetivada desestatização da Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF), somada às restrições às políticas de apoio à exportação tiveram impacto negativo sobre o setor num passado ainda recente.
Ainda assim, sob o governo anterior, nos últimos as exportações de Produtos de Defesa tiveram crescimento significativo, ressaltando a resiliência da indústria.
Com a mudança de governo, naturalmente, algumas transformações são perceptíveis. A reestruturação do Seguro de Crédito à Exportação, do Fundo de Garantia à Exportação e a reformulação da ABGF demonstram um maior apoio governamental às exportações. A restauração do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços também melhorou a interlocução com o setor de Defesa e Segurança, alinhando-se a neoindustrialização proposta pela pasta.
Entretanto, alguns desafios permanecem, incluindo a abertura à importação e participação de empresas estrangeiras em licitações governamentais.
Isso afeta diretamente a indústria nacional, composta majoritariamente por micro e pequenas empresas que dependem das compras governamentais. A busca pela isonomia é urgente para garantir não apenas a competitividade, mas a sobrevivência dessas empresas.
Ainda assim, a presença de empresas estrangeiras traz consigo transferência de tecnologia e expansão de mercados, beneficiando o setor como um todo. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio.
A Indústria de Defesa e Segurança brasileira, impulsionada por uma política econômica voltada para inovação e geração de empregos, tem potencial para se posicionar como um novo protagonista global.
É vital reconhecer que cada ciclo de governo traz suas visões e abordagens. Julgar decisões requer análise imparcial de seus efeitos e ajustes quando necessário e possível.
Não podemos moldar o futuro olhando apenas para trás. O desafio é enfrentar as mudanças e tendências globais, adaptando-se para alcançar uma posição de destaque em um cenário altamente competitivo.
Rodrigo Campos é diretor do Departamento de Defesa e Segurança, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).