As eleições argentinas e as perspectivas para o MERCOSUL

por | nov 21, 2023 | 15h

No último domingo, 19, o economista Javier Milei, de 51 anos, conquistou quase 15 milhões de votos (cerca de 56%) de um total de 26,8 milhões, elegendo-se o 12º presidente da Argentina em 40 anos de democracia. Quase 80% dos argentinos participaram das eleições, com apenas 4% de votos nulos e brancos. Sem dúvida, a Argentina deu um grande exemplo para o mundo.

Quanto à opção que rompe com o peronismo, muitas são as incógnitas. Milei certamente não será o mesmo quando assumir em 10 de dezembro. A retórica exagerada da campanha, terá de dar lugar ao pragmatismo e a Argentina deposita o seu presente e futuro, no ex-goleiro do Chacarita Juniors.

Para o MERCOSUL, as perspectivas não são nada boas. Milei afirmou, em diversas oportunidades, que tiraria a Argentina do bloco. Não o fará. Os ruídos, no entanto, serão muitos. É bastante possível que Milei endosse o discurso de Lacalle Pou, o presidente uruguaio, para quem o MERCOSUL precisa de mais ações e menos reuniões. O atual modelo, é visto como um estorvo e não apenas por Milei, mas também por atores importantes no Brasil, Uruguai e Paraguai.

O processo de modernização do bloco, por exemplo, será uma das condições para que a Argentina atue. Do contrário, o MERCOSUL pode se tornar irrelevante tanto do ponto de vista comercial como político. É urgente que se freie a quantidade de cúpulas e se limitem os mecanismos (UNASUL, CELAC, CAN, entre outras), para que haja foco nos resultados.

Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, devem caminhar juntos – não apenas nos discursos floreados -, começando pelo próprio MERCOSUL que cobra oxigenação, para ganhar o mundo por meio de tratados de livre comércio com outros blocos e países-potências como Canadá, Japão e Singapura, por exemplo.

Neste sentido, o que se pode esperar do Brasil? O Brasil, por meio de suas autoridades diplomáticas, prefere esperar pelos sinais de Milei e confia numa relação pragmática (o Brasil depende tanto da Argentina quando a Argentina depende do Brasil). O problema é o peso que exercerá, dos dois lados, o componente ideológico.

A militância de esquerda brasileira, terá em Milei, o personagem ideal para continuar o processo de massacre da direita. Não aceitará um casamento entre Lula e Milei, mesmo que seja por conveniência. Na Argentina, a esquerda conta com a resistência brasileira para inviabilizar o futuro governo. Como não deu para Massa, a receita será sabotar e impedir que Milei termine o mandato.

Ainda no âmbito do MERCOSUL, vale registrar os esforços hercúleos feitos pelo Itamaraty, para tirar da gaveta, na Câmara dos Deputados, o Protocolo de Adesão da Bolívia. Parada desde 2017, a mensagem foi aprovada pela Câmara dos Deputados e já está na pauta da Comissão de Relações Exteriores do Senado, para esta quinta-feira, 23.

Também no radar, está a suspensão da Venezuela, que poderá ser retirada já na Cúpula dos Chefes de Estado do MERCOSUL, a ser realizada em 7 de dezembro no Rio de Janeiro. Os dois países, mais o Brasil, manterão o equilíbrio entre direita e esquerda (a direita terá a Argentina e já tem Uruguai e Paraguai).

No entanto, é uma pena que seja assim. A ideologia não deveria ser o farol. Por isso, o processo de integração regional não avança e a divisão apenas nos enfraquece perante o mundo. Ah, sim, conclusão do Tratado de Livre Comércio MERCOSUL-União Europeia, em 2023? Não mesmo!!