André Luís Woloszyn
O conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, vem quebrar o paradigma de que as redes terroristas internacionais atuam com armamentos antiquados, ainda remanescentes da Guerra Fria, como os antigos foguetes soviéticos Katiuchas, lançados em território israelense até a primeira década do séc. XXI.
No ataque, iniciado em 11 de outubro, ao território israelense, houve disparos massivos de mísseis superfície-superfície que, diferentemente de ataques anteriores, possuíam maior alcance, entre 120 e 200 Km, direção e letalidade em termos de cargas explosivas. Houve, também, ataques com drones e mísseis guiados antitanque Kornet, causando um rastro de destruição e mortes nunca enfrentados pelo Estado de Israel em seus 75 anos de existência, patrocinados por um único grupo terrorista.
Da mesma forma, os mísseis do Hezbollah no sul do Líbano e aqueles disparados pelo grupo Houthis, do Iêmen, juntamente com uma dezena de drones, derrubados por um destroier da Marinha dos EUA, tinham potencial de causar sérios danos estruturais as zonas urbanas e riscos de morte a população civil.
O atual cenário da guerra traz evidências de que o poder bélico destes grupos tem evoluído ao longo do tempo com armas, notadamente mísseis, fornecidos por países patrocinadores e simpatizantes além do crescimento de seus efetivos, rivalizando com alguns dos exércitos de muitos países. E à medida que a guerra se prolonga, novas táticas de proteção contra a tecnologia vão sendo incorporadas junto a outros tipos de armas, mais eficazes.
Não tenho dúvidas de que se estivessem em poder de algum artefato nuclear com baixa carga radioativa ou mesmo as chamadas bombas sujas, que combinam explosivos convencionais com material radioativo, estas teriam sido utilizadas já que a destruição do Estado judeu é o objetivo principal do Hamas e de seus apoiadores, que atualmente estão longe desta capacidade.
Contudo, vale lembrar, que o mercado ilegal de armas está num crescente, em parte, face a retirada das forças militares dos EUA do Afeganistão deixando para traz toneladas de equipamentos e armas de última geração somado ao conflito entre Rússia e Ucrânia, onde não há possibilidade de fiscalização e controle das armas e equipamentos que foram fornecidos pelos EUA e pelos países membros da OTAN às forças militares ucranianas.
Também não se tem notícias acerca do comércio ilegal de armas de pequeno potencial nuclear, especialmente, de parte da Coreia do Norte, situação que não pode ser completamente descartada ou dos avanços do Irã em construir sua própria bomba, em meio ao aparente colapso dos acordos de desarmamento e proliferação de armas nucleares capitaneados pela ONU.
Se há algum tipo de consenso entre analistas militares internacionais, este recai no potencial bélico cada vez maior dos grupos terroristas internacionais o que significa maior letalidade em futuros conflitos mesmo que a vitória não seja um ideal perseguido, pela disparidade de forças. No momento, esta guerra e provavelmente as futuras são consideradas de baixa intensidade mais próximas de ações de guerrilha dos grupos terroristas em relação ao Estado de Israel simultaneamente a uma guerra psicológica de parte dos apoiadores por meio de ameaças.
O único fator com potencial para mudar drasticamente este cenário seria uma arma nuclear em mãos erradas, e nesta hipótese, estaríamos sim, prestes a viver uma 3ª Guerra Mundial.
André Luís Woloszyn foi analista de inteligência da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). Possui o Curso de Informações Categoria A, diplomado em Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra (ESG/RJ), pesquisador e Membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB).