É viável um Estado Palestino?

por | nov 30, 2023 | 10h

Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU, sob a presidência do brasileiro Oswaldo Aranha, aprovou a partilha da chamada Palestina Histórica, por meio da Resolução 181, que previa a criação de dois estados, o de Israel e o da Palestina. Israel aceitou a decisão. Os árabes não. Várias foram as guerras entre eles e a paz continua sendo uma utopia.

Israel continua expandindo os assentamentos, violando resoluções da ONU e sendo indiferente à viabilidade de um Estado Palestino. Por outro lado, os próprios palestinos têm as suas responsabilidades que não podem ser ignoradas.

Atualmente, a Palestina tem uma economia equivalente à de países como Bangladesh e Djibuti. Mas, nos últimos 20 anos, US$ 44 bilhões foram despejados tanto na Cisjordânia como em Gaza. A ideia era potencializar o desenvolvimento econômico palestino. Só os EUA, demonizado em toda a região, doou em média, por ano, US$ 600 milhões.

A Palestina é um dos lugares do mundo que mais recebe ajuda ocidental. O total de doações é superior a 25% do PIB regional. Ainda assim, o desemprego supera os 26%, a taxa de pobreza está na casa dos 30% e a renda per capita mal chega aos US$ 300 mensais.

Os dados são do Palestine Economy Portal. De acordo com o órgão, entre 1994 e 2020, a União Europeia e suas instituições, doaram 18,9% do total de recursos enviados para a Palestina. Os EUA, 14,2%; Alemanha, 5,8%; Noruega, 4,8%; e Reino Unido, 4,3%. Essa estratégia – inundar a Palestina com dinheiro – foi acordada no âmbito dos acordos de Oslo, de 1993.

À época, Yasser Arafat foi reconhecido como o interlocutor internacional da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Ele precisava transformar a Palestina num Estado forte para controlar justamente o terrorismo. O ocidente entregou bilhões sem exigir qualquer prestação de contas.

Arafat criou escritórios do governo, forças de segurança e empregou todos os seus simpatizantes. Cerca de 60% de todo o orçamento palestino era gasto apenas em salários para 600 mil pessoas ou 50% dos residentes na Palestina nos anos 90.

Voltando um pouco, Oslo também previa um plano de comércio internacional, um de integração econômica com Israel e uma Constituição que deixaria claro que a sua economia (da Palestina) estaria sujeita aos princípios do livre mercado. Eram, há época, as condições para que a Palestina reunisse condições de se desenvolver.

No início, as coisas funcionaram. No ano 2000, foram construídos 254 km de estradas, 1.755 km de encanamentos de água, 3.764 salas de aula e houve um aumento de 78% no número de centros médicos.

No entanto, com tanta gente dependendo do dinheiro público de uma Palestina dependente da ajuda do Ocidente, as coisas começaram a degringolar. As pessoas não empreendiam ou buscavam alternativas fora do serviço público. Já o líder palestino, preferiu manter as coisas, pois mudar o cenário não seria nada popular. E, como já assinalado, ele não precisava melhorar nada para seguir recebendo os bilhões.

Enquanto isso, Israel não concretizou a abertura comercial prometida e ainda dispensou a maior parte da mão-de-obra palestina. Na mesma esteira, ampliou a política de assentamentos e controles fronteiriços sobre as estradas palestinas. Esses assentamentos, além de desalojar as pessoas, tomou conta dos parcos recursos naturais palestinos.

Corrupção

Yasser Arafat nunca foi santo. Sob a sua liderança a corrupção espalhou-se como um câncer agressivo. Ele beneficiou grupos simpáticos e monopolizou muita coisa. Apenas um grupo, PADICO, ficou com toda a infraestrutura de telecomunicações, para as quais recebeu US$ 14 bilhões, devolvendo apenas 1% das concessões.

Arafat estabeleceu, ainda, numerosos monopólios públicos nos setores de combustíveis e cimento. O escândalo do Panamá Papers, de 2016, desnudou esse emaranhado corrupto envolvendo a Autoridade Palestina.

Diante desse quadro, como ficaram aqueles que não tinham empregos públicos ou não recebiam ajudas do governo? Como qualquer outro populista, Arafat beneficiava apenas os seus aliados. Críticos do regime, eram totalmente marginalizados. ONGs que não rezavam na sua cartilha, também eram alijadas completamente das ações. Curiosamente, os marginalizados responsabilizavam o Ocidente por suas mazelas, não o líder palestino que era o responsável pela gestão do dinheiro.

Daí, surge o Hamas em Gaza, alimentado por Israel para fraturar a liderança palestina, que é quem provê educação, comida, dinheiro e serviços de saúde, aos excluídos. Surgiu, então, uma alternativa social ao corrupto governo palestino. As frustrações se converteram rapidamente em terrorismo, o que implicou na expulsão da Autoridade Palestina, de Gaza. Com isso, o Hamas tornou-se a potência política, militar e terrorista.

Dá para dizer, então, que a ajuda ocidental que pretendia acabar com o terrorismo, acabou servindo de combustível. Isso sem contar que todo esse cenário gera uma série de dúvidas concretas acerca da viabilidade de um Estado palestino.