A guerra de Israel contra o Hamas, iniciada em 7 de outubro, tem muitas implicações e pode ser analisada sob diferentes pontos de vista. Um deles, diz respeito às relações de Israel com o mundo árabe, uma vez que este processo vinha alcançando resultados extraordinários e poderia dar musculatura ao diálogo entre as partes.
Atualmente, um dos principais obstáculos à normalização das relações de Israel com o mundo árabe, é a Tunísia, que busca algum protagonismo contando com o desgaste natural de outros atores árabes, nesse enfrentamento.
A normalização das relações com Síria e Líbano, é bastante improvável. Israel teve guerra com esses países. Com o Egito e a Jordânia, normalizadas há muitos anos, as relações não mudam. Os dois países veem os palestinos como um problema para todo o Oriente Médio.
Com Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bahrein e Sudão, as negociações concluídas ainda em 2020, não sofrerão alterações. Esses países consideram Israel um ator relevante e potencial parceiro. Com o Qatar, a situação é bem delicada. Há diálogo entre Israel e Qatar, mas centrado nas negociações para a liberação de reféns.
O Qatar abriga alguns dos líderes do Hamas (multimilionários, ressalte-se), além de financiar, junto com o Irã, os fundamentalistas de Gaza. No caso da Arábia Saudita, é importante destacar que, em 2002, o país apresentou um plano de paz, em que Israel abandonaria os territórios ocupados em 1967 e frearia os assentamentos.
A proposta teve o apoio integral da Liga Árabe, mas foi rejeitada pelos palestinos. Hoje, Riad considera muitos outros temas mais relevantes que a questão palestina.
Em outra frente, no sul do Líbano, o enfrentamento dá-se com o Hezbollah, que desde 2006, desrespeita a resolução 1701, das Nações Unidas, para deixarem a região e seguirem para o outro extremo do país. A pretensão da ONU era ocupar o sul do Líbano com tropas da UNIFIL e do Exército libanês.
A dificuldade em pressionar o Hezbollah, para que cumpra com as determinações do Conselho de Segurança da ONU, reside na política. A organização conta com representantes no Parlamento do Líbano e detém, com o Partido Amal e outras siglas menores, 50% das cadeiras do legislativo.
O Líbano atravessa a pior crise desde 1850. As estimativas mais otimistas, revelam que o turismo no país sofrerá um baque de 30%, podendo chegar a 70%. O setor responde por 26% da economia libanesa. A conclusão do mundo árabe, em geral, é que o Líbano precisa urgentemente livrar-se do Hezbollah.
Israel
A queda do governo de Benjamin Netanyahu, é considerada iminente. O nível de tensionamento interno, não para de subir. A previsão é de que as manifestações contra o governo não parem. No âmbito político, entende-se que não é momento de troca, embora a maioria dos membros do Knesset, considera o ocorrido em 7 de outubro, inaceitável e indefensável.
Por outro lado, é importante considerar que a trégua em curso, foi decidida por Israel, por razões estratégicas. A parada na guerra, permite que as forças de defesa tomem um respiro e seus comandantes possam reorganizar as unidades e o municiamento, além de reverem o cenário estratégico no terreno.
A previsão é que a guerra contra o Hamas, perdure por pelo menos mais dois meses, após a retomada dos combates. Mais 60 dias, permitirão que Israel frature a espinha dorsal do Hamas. Além disso, a trégua é extremamente ruim, do ponto de vista militar, para os terroristas.
Militarmente, o Hamas não pode mais mover material e/ou efetivos do Sul para o Norte de Gaza. Também não terá como receber nenhum tipo de apoio militar externo. As contas dos líderes do Hamas, incluindo criptoativos, também estão sendo derrubadas.
Com a trégua, Israel dilui o desgaste por conta das mortes de civis em Gaza, ao mostrar-se flexível aos apelos e sensível à questão humanitária e à tragédia humana que a guerra produz.