André Luís Woloszyn
Uma das características essenciais de grupos radicalizadas é a crença inabalável em seus propósitos, quaisquer que sejam, legítimos ou não. Esta condição pode ser ampliada pela opressão de qualquer espécie gerando o que Hans Morghentau chamou de “sentimento dos derrotados”, algo que potencializa o ódio e a vingança e resulta em novos conflitos.
O exemplo mais claro deste processo foi a deflagração da Segunda Guerra Mundial com uma Alemanha humilhada pelo Tratado de Versalhes (1919). Da mesma maneira, a invasão do Iraque pelas tropas de coalização que gerou o ISIS ou ainda, a força do Talibã expulsando os EUA do Afeganistão após 20 anos de ocupação.
Com os grupos terroristas, não é exceção. Após décadas de conflitos e a neutralização de várias lideranças, a ideia central permanece inabalada. E ressurgem, ciclicamente, como ondas em ataques mais ousados e brutais, como aponta a história recente, vide os episódios do 11 de setembro nos EUA e a série de atentados em capitais europeias entre os anos de 2002-2015. Para analistas e governos, há duas perguntas um tanto complexas que se fazem necessárias e que devem estar sendo discutidas a exaustão: Existe alguma estratégia eficiente capaz de reduzir o potencial dos ataques? Tais grupos podem ser erradicados?
Na tentativa de encontrar respostas, não se vislumbra um horizonte favorável. Reduzir o potencial operacional significa cortar totalmente a logística que os mantém operativos. Pode funcionar por determinado espaço de tempo, todavia, com o auxílio e financiamento de países apoiadores, a estrutura é novamente refeita com novos armamentos. Neutralizar seus integrantes é outro ponto que não surte efeito pois são rapidamente substituídos, dentro do conceito de “sentimento dos derrotados” com uma legião de pessoas sedentas por vingança, muitas vezes, por amigos, parentes e familiares mortos pela força oponente. Se podem ser erradicados?
Diante do exposto, penso que não, pelo menos a curto e médio prazo. Sua força e estímulo para continuar na luta repousa na ideia e em sentimos de pertencimento-identidade-injustiça, fomentados pela intensidade das ações armadas do oponente o que, paradoxalmente, os fortalecem em uma guerra também travada no front psicológico, das mídias e da opinião pública. Ações militares ocidentais possuem um sucesso temporário e com altos custos financeiros.
André Luís Woloszyn é analista de Assuntos Estratégicos, Diplomado em Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra e Psicanalista.