José Antônio de Macedo Soares
Os cientistas que fabricaram as bombas atômicas responsáveis pela destruição de Hiroshima e Nagasaki, também “conceberam” um relógio para alertar a opinião pública sobre quanto tempo poderia estar faltando para o fim do mundo em decorrência de guerra nuclear. O grupo, designado como “The Atomic Scientists of Chicago”, teve físicos ilustres como Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer, e Eugene Rabinowitch, todos preocupados com as consequências catastróficas da nova tecnologia militar nuclear.
Quando o relógio foi concebido em dezembro de 1947 o mais óbvio modo de “destruir o mundo” era uma confrontação global com armas atômicas. Na primeira versão do relógio do apocalipse foi adotada a convenção de que estariam faltando sete minutos para a meia-noite, ou seja, a destruição do mundo. Desde então o tempo do relógio foi recuado oito vezes e adiantado (i.e. mais próximo da meia-noite) dezessete vezes, conforme diminuía ou aumentava a tensão política no mundo. O momento em que o ponteiro dos minutos do relógio mais se afastou do apocalipse ocorreu em 31 de julho de 1991, com o final da Guerra Fria e a assinatura pelos EUA e URSS do Tratado de Redução de Armas Estratégicas. Neste momento de otimismo o ponteiro passou a marcar 17 minutos para a meia noite do apocalipse. Desde 1973, a responsabilidade de alterar o ponteiro dos minutos do relógio cabe a um grupo de cientistas que se reúne duas vezes ao ano para analisar o momento político no mundo.
Contudo, ficou cada vez mais óbvio que o fim da humanidade poderia ocorrer por outras causas que não fossem guerras nucleares. Os cientistas responsáveis pela gestão do relógio passaram, por conseguinte, a também levar em conta novas possibilidades de apocalipse como mudanças climáticas, quebra na cooperação internacional de controle de armas, conflitos em Gaza e na Ucrânia, novas tecnologias (Inteligência Artificial etc) que podem levar a uma quebra da ordem mundial, novos países com armas atômicas, etc.
Desde 24 de janeiro de 2023, o relógio está alertando que apenas 90 segundos nos separam do apocalipse. O adiantamento do ponteiro dos minutos foi justificado pela “erosão das normas de conduta internacional” e, mais especificamente, pela ameaça russa de utilizar armas nucleares na guerra da Ucrânia. Em suma, desde a criação do relógio do apocalipse, em dezembro de 1947, nunca os seus ponteiros metafóricos estiveram tão próximos da meia-noite do final do mundo como no momento atual.