Marcelo Rech
Estima-se que, desde o início da guerra com a Rússia, em fevereiro de 2022, a Ucrânia já recebeu cerca de US$ 160 bilhões em dinheiro e equipamentos. Antes da invasão russa, a Ucrânia já era um dos países mais corruptos da Europa e a circulação de armas de todos os tipos, no país, era muito comum. As próprias Forças Armadas ucranianas presenteavam os políticos locais com armas. Essa realidade não mudou com a guerra. Pelo contrário.
Há pouco mais de dois anos, a Ucrânia recebe armas de vários fabricantes sem que resultados objetivos sejam alcançados. Essa situação tem feito com que muitos países, EUA incluídos, revejam as estratégias de apoio a Kiev. Após o fracasso da ofensiva ucraniana deflagrada em 4 de junho de 2023, diante da degradação e deterioração de muitas unidades de combate e perdas substanciais de equipamentos, as forças militares do país, apoiadas diretamente pela OTAN, se viram em um impasse operacional, perdendo iniciativa e passando a uma estratégia defensiva e de desgaste às forças russas, que retomaram a iniciativa ofensiva em vários eixos, com sucessos táticos variáveis e pontuais.
O tempo mostra que as armas e equipamentos militares ocidentais de alta tecnologia não têm ajudado as Forças Armadas da Ucrânia (FAU) a mudar significativamente a situação no campo de batalha. Além disso, a má formação dos ucranianos, uma vasta gama de veículos blindados fornecidas a Kiev e o estado técnico ruim das armas recebidas conduzem a avarias frequentes.
Nos EUA, a opinião geral é que a falta de treinamento dos militares das FAU é a principal responsável pela quebra frequente dos equipamentos enviados pelo Ocidente. Para se ter uma ideia, a Ucrânia utiliza, atualmente, 17 tipos diferentes de obuseiros de produção ocidental e soviética.
Estes incluem o M777 enviado pelos EUA, Canadá e Austrália; o L119 enviado pelos EUA e Reino Unido; artilharia autopropulsada francesa; o AS-90 britânico e o “Panzerhaubitze” alemão. Além disso, as FAU usam obuses americanos M109, Krab polonês e Zuzana-2, eslovaco.
Tal diversidade apenas complica a manutenção dos veículos blindados fornecidos pelo Ocidente. Ao mesmo tempo, o Ocidente reconhece que as FAU não são capazes de conduzir operações militares de forma sustentável sem assistência externa.
Diante desse cenário, Kiev deve preparar-se para um confronto prolongado com a Rússia, uma vez que há poucas hipóteses de um avanço decisivo das FAU no campo de batalha em 2024, para não mencionar os próximos meses. É cada vez mais claro que as armas enviadas não produziram mudanças relevantes e a Ucrânia segue em busca de uma “arma milagrosa”.
A história dos conflitos armados mostra que é impossível resolver contradições existentes apenas com armas. Qualquer confronto, cedo ou tarde, termina em um processo de negociação. Esse parece ser o caminho mais indicado e o Brasil, que já anunciou sua disposição em atuar pela resolução do conflito, poderia deixar a retórica de lado e atuar de forma objetiva para que Moscou e Kiev se abram ao diálogo e à um acordo que ponha fim à guerra.